sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Sempre um pouco mais gentil que o necessário.

Quem me conhece sabe que entre eu e meu pai existe um xodó. Até hoje ele me chama de "pequena" ou "gordinha". Dá beijo na testa quando desço do carro. E antes de sair de casa, sempre solta seu famoso "volta". Essa expressão é muito mais que um compromisso de voltar pra casa antes das 5h. É sobre saber que temos pra quem e pra onde voltar, quaisquer que sejam as circunstâncias.

Meu pai é do tipo que me tira do sério porque passa quase arrancando o retrovisor do carro do lado. Do tipo que acorda 6 da manhã, feliz, todos os dias - mesmo quando tá chovendo e tá -3ºC lá fora. É do tipo que só repara que você pintou o cabelo uns dias depois. É do tipo que esquece seu aniversário e liga lá no meio da tarde, disfarçando "achou que eu tinha esquecido, né?" (e eu dou risada porque sei que ele tinha esquecido). É do tipo que ama todos os programas de futebol de mundo: Mesa Redonda, Terceiro Tempo, Fanáticos por Futebol, Fox Sports, Globo Esporte e sei lá mais qual existe. É do tipo que ama programas da Discovery que mostram o acasalamento de um bicho que eu nunca ouvi falar. E ainda faz "shhh!" se eu falo alguma coisa muito alto enquanto ele tá prestando atenção.

Ele também é do tipo que me espera todo dia pra me dar carona de voltar pra casa, mesmo tendo que esperar quase 40 minutos pra eu chegar onde ele está. É do tipo que corta manga quase meia noite, só porque eu - dos alto dos meus 23 anos! - digo que não vou comer porque não sei cortar. É do tipo que me acorda com massagem nos pés de manhã. É do tipo que compra um sonho big na padaria, mas me dá inteiro só porque falei que tava bonito. É do tipo que me espera com uma caipirinha de tangerina na sexta-feira só porque eu gosto. É do tipo que aprendeu a cantar Avril Lavigne porque o CD ficou tanto no player do carro que quase furou. E não muda de estação se começa a tocar na rádio.

Tudo isso pra dizer que, uns dias atrás terminei de ler "Extraordinário" e fiquei encantada com uma mensagem específica e que me lembra muito meu pai. Na formatura de Auggie - o protagonista -, o diretor da escola cita J. M. Barrie: "Vamos criar uma nova regra de vida... Sempre tentar ser um pouco mais gentil que o necessário". 

Meu pai é, sempre foi, um pouco mais gentil que o necessário comigo. Sempre passou manteiga no pão sem que eu pedisse. Colocou a pimenta na caipirinha sem que eu pedisse. Comprou carolina na padaria sem que eu pedisse. Lavou a salada sem que eu pedisse. Deixou eu explicar uma(s) cagada(s) sem me interropmer. Se atrasou pro trabalho porque quis me deixar dormir mais 15 minutos. Ele é assim: até quando fala que não vai me esperar sair do trabalho porque vai sair mais cedo, volta atrás. É gentil, fica mais um pouco. Só porque começou a chover.

Me ensinou a ser gentil comigo mesma. Tudo bem eu ter dificuldade em matemática. Eu posso tomar um copo de coca-cola no almoço. Eu não preciso saber o que fazer da vida agora. Eu posso me vestir de princesa, mas também posso me vestir de pirata, se eu quiser. 

E, é claro, posso pegar o coração dele se eu precisar. Mesmo sabendo que o coração dele já tá aí fora, dividido em duas partes, o tempo todo (metafóricamente falando, claro). 

Obrigada, pai. 

(Descobri que ele não gosta de aniversários, então esse não é um post de aniversário - apesar de o aniversário dele ser amanhã. Quê? Alguém falou alguma coisa? Hehe.)

E uma foto explosão de fofura porque não. me. guento:



Tchau.  
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